Até parece história retirada dos filmes
de ficção científica, uma formiga controlada por um fungo. Um determinado grupo
de fungos é especialista em alterar o comportamento das formigas, ou seja,
depois de infectar suas vítimas, passa a produzir substâncias que as deixam
desorientadas, como se estivessem “drogadas”. A formiga contaminada sobe em uma
planta e, com suas fortes mandíbulas, se prende aos ramos e morre. Assim, o
fungo produz uma estrutura reprodutiva fora do corpo da formiga (ver foto
abaixo), onde ocorre a “chuva” de esporos que irá contaminar outras formigas no
solo da floresta. Já foram encontradas mais de 3.500 formigas contaminadas em
um mesmo local (evento epizoótico). Ainda, muitas vezes é possível ver uma
formiga carregando outra, supostamente contaminada, para longe do formigueiro.
Deixando de lado as crendices ou ficção relativa à zumbificação,
de fato, estas relações entre fungos e insetos são muito interessantes e ainda
pouco estudadas pelos cientistas. Estes fungos especialistas em controlar as
formigas fazem parte dos Cordyceps, grupo maior
de fungos que é conhecido por infectar e matar insetos como lagartas, besouros,
grilos, gafanhotos, moscas, entre outros. O caso anteriormente descrito se
refere à interação entre o fungo Ophiocordyceps
unilateralis e formigas do grupo Camponotus,
que ocorre em várias regiões do planeta. Em 2011, o pesquisador Harry Evans e
seus colaboradores, observaram que havia mais espécies de fungos que também
“hipnotizam” outras formigas. Eles encontraram quatro novas espécies de fungos
em quatro diferentes espécies de formigas, todas vivendo na mesma região da
Mata Atlântica de Minas Gerais no Brasil. Os pesquisadores sugerem que as
espécies de fungos têm preferência pelas espécies de formigas e por isso usaram
os nomes das formigas hospedeiras para os nomes científicos dos fungos (Ophiocordyceps camponoti-rufipedis, Ophiocordyceps camponoti-balzani, Ophiocordyceps
camponoti-melanotici e Ophiocordyceps
camponoti-novagrandensis).
Durante uma expedição do projeto PPBio/SC (Programa de Pesquisa em
Biodiversidade de Santa Catarina) no Parque Nacional de São Joaquim no estado
de Santa Catarina (Brasil), em 2013, os alunos de mestrado Raquel Friedrich e
Fernando Mafalda, do Laboratório de Micologia da UFSC (http://micolab.paginas.ufsc.br),
descobriram formigas zumbis em Urubici/SC. Foram encontradas 10 formigas Camponotus em ramos de um musgo que cobre os troncos
das árvores nas Matas Nebulares (florestas de altitudes frequentemente cobertas
por nuvens). Os cientistas da UFSC, Benedito Lopes e Félix Rosumek,
especialistas em insetos (entomólogos), estão ajudando na identificação das
formigas. Já os estudos com o fungo indicam que pode ser uma espécie ainda não
conhecida pela ciência. A descoberta não poderia ser mais interessante. Nas
fotografias é possível ver como a formiga se prende ao musgo e como o fungo
produz, na base da cabeça da formiga, um tipo de cogumelo. Algumas vezes foram
encontradas apenas as cabeças de formigas presas aos ramos dos musgos,
significando que o fungo já havia liberado os esporos para contaminar outras
formigas.
O cenário realmente lembra um filme de terror, uma mata
frequentemente coberta por um nevoeiro, com árvores dominadas por musgos e
formigas “zumbis” subindo em árvores para encontrar o seu fim. Enfim, embora
pareça trágico para as formigas, talvez seja o único modo de sobrevivência para
o fungo.
Formigas zumbis nas Matas Nebulares de Santa Catarina.
a-b. Vista geral da formiga no musgo,
contaminada pelo fungo, que parece uma antena; c. Detalhe da parte do fungo que
produz esporos; d. Detalhe da base da cabeça da formiga onde emerge a estrutura
produtora de esporos do fungo.
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